Twenty years after they were sold and illegally adopted by european couples, these young adults come back to BraziL
BARCELONA - Margarida Videira da Costa
Vinte anos depois do boom das adoções ilegais, jovens de todo o mundo procuram a família biológica.
O tema já motivou uma telenovela
na Globo e foi alvo de sessões de
debate em Brasília. “Infelizmente, a
justiça brasileira não tem cumprido
com o apoio às vítimas do tráfico
de bebés, porque os registos oficiais
do passado são raros”, diz
Amanda Boldeke, fundadora da
ONG Desaparecidos do Brasil. “É
como se eles não existissem.”
Desaparecidos do Brasil existe
desde 1997, mas foi com o boom da
Internet que encontrou mais jovens
de Israel, Itália, França e Estados
Unidos, todos com a mesma confissão:
“Descobri que sou brasileiro.”
O que se segue, nem sempre é
um final feliz. “Só perto de 1% das
vítimas encontra familiares.”
Lior Vilk, 29 anos, foi uma das
primeiras pessoas a contactar
Amanda, em 2009. “Os meus pais
tratam-me como se eu fosse a pessoa
mais especial da vida deles.
Mesmo assim, sinto que não pertenço
a Israel. Quero conhecer a
minha família biológica”, diz Lior.
A responsável pela falsificação dos documentos com que o jovem
saiu do país, Arlete Hilu, liderou
uma das maiores quadrilhas de tráfico de bebés do Sul do Brasil. Por
cada criança cobrava entre 3.500 e
40 mil euros. Foi condenada a duas
penas de prisão efectiva.
Antes de 1990, a adopção no Brasil era um tabu. “A maioria destes casais transferiu grandes quantias de dinheiro para as contas de intermediários, pensando que serviam para pagar os documentos” explica Amanda Boldeke. Na verdade, estavam a comprar um bebé. O drama foi capa do New YorkTimes, onde em cima da fotografia de um bebé se lia “O Brasil não exporta só café.” Teve consequências em todo o mundo – um jornal italiano revelou que quatro mil bebés brasileiros teriam entrado ilegalmente no país entre 1983 e 1992.
Os pais adoptivos de Charlotte transferiram o equivalente a 10 mil euros para a conta de Guiomar Morselli, dona do orfanato Lar da Criança em São Paulo. Foi a esta instituição que Edna Maria Silvestre, grávida de três meses, chegou em 1990. Hoje com 44 anos, é uma das testemunhas da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar o tráfico de pessoas no Brasil. A sua história confunde-se com a da maioria das mães envolvidas nestas redes: grávida e sem emprego, o orfanato prometia-lhe um tecto. O facto de vários casais estrangeiros visitarem a instituição não lhe causou suspeitas, até ao dia que uma colega lhe perguntou quanto ia receber pelo bebé – já lá tinha vendido cinco filhos.
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Médicos e juízes envolvidos
Entre os protagonistas das redes de
tráfico infantil encontram-se funcionários
de lares e hospitais, assistentes
sociais, mas também médicos,
polícias e juízes, que se encarregavam
de falsificar exames e documentos.
“A adopção ilegal é um
problema com muitos tentáculos e
difícil de eliminar”, diz Amanda.
Quando a polícia invadiu a casa
de Carlos Cesário Pereira, advogado
envolvido num escândalo de
tráfico de bebés, em 1986, o homem
defendeu-se argumentando
que “a maioria destes bebés morreria
antes de 1 ano se ficassem no
seu ambiente de extrema pobreza”.
Muitos réus utilizam o mesmo argumento:
as crianças partiram de
um Brasil pobre para uma vida melhor
na Europa.
O caso de Charlotte prova o contrário:
a mãe adoptiva tinha desequilíbrios
psicológicos; o pai problemas
de alcoolismo. “Em França
nunca passariam as provas para
adopção”, confidencia a jovem.
Depois de episódios de violência
verbal e física, acabaram por perder
a custódia da filha adoptiva,
que passou a viver num abrigo
apoiado pelo Estado francês.
Charlotte estudou, juntou dinheiro
e aterrou em São Paulo em 2012,
em busca de pistas sobre o passado.
O seu caso está agora em tribunal.
“Aqui sinto que encontrei o
meu lugar. Em França, ou estava
doente por causa do frio, ou estava
triste por não ser loura como as
outras crianças. O meu corpo foi
feito para viver aqui, no Brasil”, diz
num português quase perfeito.
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