Sociedade Brasileira de Pediatria lança campanha contra a violência infantil, subnotificada no Brasil11/10/2011
SBP
quer conscientizar pediatras e famílias sobre a prevenção da violência
infantil, que pode trazer sérios danos ao desenvolvimento das crianças
A
Sociedade Brasileira de Pediatria lança, durante o Congresso Brasileiro
de Pediatria, em Salvador, a campanha “Violência é Covardia – crescer
sem violência é direito fundamental das crianças e adolescentes”. O
problema, que é subnotificado e que não possui dados nacionais
confiáveis, é a principal causa de morte de crianças e adolescentes a
partir dos cinco anos de idade. “Cerca de 70% dos casos ocorrem dentro
das casas, considerados ambientes 'sagrados' – e por isso faltam
estimativas que abranjam o território brasileiro”, diz Rachel Niskier
Sanchez, coordenadora da campanha. Segundo ela, a primeira causa de
violência é a negligência e a segunda é a agressão física.
Tipos de violência infantil:SÍNDROME DE MUNCHAUSENQuando
a criança é trazida para cuidados médicos devido a sintomas inventados
ou sinais provocados por seus responsáveis. A partir disso, ela é
submetida a exames, uso de medicamentos, sofrendo consequências físicas e
psicológicas.
ABUSO SEXUALÉ
todo ato sexual em que o agressor está em estágio de desenvolvimento
psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. Pode ser
induzido, influenciado ou forçado.
MAUS TRATOS PSICOLÓGICOSEnglobam
rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança ou punição
exageradas. Pela falta de evidências, é o tipo mais difícil de ser
diagnosticado.
NEGLIGÊNCIAOmissão do responsável em fornecer cuidados básicos e todos os elementos necessários para o desenvolvimento da criança.
Fonte: Guia de Atuação Frente aos Maus Tratos da Sociedade Brasileira de Pediatria"No
Brasil, temos o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos e o
SIPIA, que é o sistema de informação para a infância e adolescência.
Nenhum dos dois representa a magnitude do problema", diz Sanchez.
A
ideia da campanha, segundo ela, é mostrar que é possível educar sem
violência, evitando que a agressão seja uma forma legítima de solução de
conflitos. Crescer em um ambiente violento e sofrendo maus tratos pode
trazer consequências ao desenvolvimento e aprendizado das crianças, que
são incapazes de se defender. Além disso, quem sofre violência pode
apresentar maior índice de depressão, comportamento violento, tentativa
de suicídio e distúrbios do sono. Entre os mais vulneráveis, estão
crianças que têm pais desempregados, alcoólatras e dependentes de drogas
ilícitas. Aquelas com deficiências mentais ou físicas também são mais
suscetíveis a sofrer agressões.
Os sinais podem ser invisíveis
para quem não está atento, explica Sanchez. Eles podem vir com queixas
de falta de apetite, tristeza, problemas para dormir. Quando os sinais
são aparentes, as crianças apresentam hematomas, histórico de ossos
quebrados, queimaduras, fraturas de crânio, entre outros sintomas. "A
campanha tenta trazer para a agenda do pediatra um olhar perceptivo e
atento para os casos. Infelizmente, ainda é comum que um menino
violentado passe por médicos e enfermeiros sem que a causa de
determinada queixa seja identificada", diz.
Em determinados
casos, é preciso que o médico peça ao acompanhante para sair do
consultório e abordar a criança. Quem souber de algum caso de abuso,
pode denunciar para o número 100 — a notificação pode ser anônima. "A
prevenção começa no pré-natal, quando o pediatra olha a paciente no olho
e dá a atenção que ela precisa. E se prolonga por toda a vida."
Crianças com deficiência sofrem maus tratos. E ninguém sabe
Uma
pesquisa realizada pelo Instituto Fernandes Figueira, referência em
doenças genéticas da FioCruz, sugere que crianças com deficiência também
são vítimas de violência – mas recebem pouco ou nenhum amparo. Uma
análise feita a partir de um total de 8.000 notificações, de oito
Conselhos Tutelares do Rio de Janeiro, mostrou que apenas 3% são
relacionadas a crianças com deficiência. "Essas crianças que são ainda
mais vulneráveis são também invisíveis aos olhos de quem pode
ajudá-las", diz Rachel Niskier Sanchez, autora do estudo.
Os
dados foram coletados entre janeiro e dezembro de 2009. Segundo Sanchez,
este é um estudo pioneiro, já que não constam estudos parecidos na
literatura internacional. Os resultados preliminares serão apresentados
durante o Congresso Brasileiro de Pediatria e deverão ser publicados no
início do próximo ano. Na amostra, foram consideradas deficientes
crianças com incapacidade física e mental, além de pequenos com
distúrbios do comportamento, como crianças com transtorno de déficit de
atenção (TDAH).
Fonte: Veja online